quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Análise do espetáculo “Na Solidão” do Grupo Hybris, oriundo da UFRGS, no I Fest Universitário de Teatro e Dança da UFU.

Flávio Henrique S. Amorim

Quem compareceu aos espetáculos do Festival Universitário de Teatro e Dança no dia seis de setembro, apresentados na sala de encenação da Escola Livre do Grupontapé, teve a oportunidade de apreciar o esforço poético, gestual e comunicativo do corpo através da dança. Dos espetáculos apresentados, escolhemos analisar “Na Solidão” do grupo gaúcho Hybris.
Passando por momentos de dança monologar à diálogos corporais entre os atores-dançarinos e também por coreografias simétricas seus personagens, um comprador e um vendedor, brincar de comercializar relações humanas, vendendo afetos, vaidades e momentos de ficar juntos e momentos de solidão, fazendo provocações a respeito da identidade do coletivo em detrimento da identidade do individuo. “Na solidão” deve ser aplaudido por sua organização de Ação, palavra e movimento, unindo teatro e dança sem que isso provocasse ciúmes a qualquer das linguagens.
Relações Humanas e Metáforas
Hybris, hubris ou ainda wybris é uma palavra de origem grega que significa a soberba humana diante do sagrado. Soberba essa disseminada pelo Titã Prometeu ao trazer o “fogo dos deuses”, o conhecimento aos homens até então desprovidos de mecanismos de defesa no mundo material onde prevalece a lei do mais forte. Este mesmo fogo que convidou o Homem a vida social e ao calor das relações pouco a pouco humanizadas é usado por Hefesto para forjar utensílios, ferramentas para o auxílio das atividades humanas e mais tarde por sua vez o homem forja do vil metal uma moeda para trocas comerciais. “Na solidão”, adaptada livremente da obra Solidão dos Campos do dramaturgo francês Bernanr-Marie Koltès, expõe a cacofonia das relações humanas num contexto materialista onde o grupo usa a metáfora do comercio, na relação vendedor e comprador, para pontuar a livre negociação da convivência, dos encontros, desencontros e da satisfação de desejos na vida social. Isso pode ser percebido na dramaturgia do espetáculo, onde o texto é experimentado como textura das ações propostas e ditos em um processo de aceleramento da fala até sua incompreensão.
O espetáculo em questão se passa em um local não definido e está apoiado pelo cenário precário, composto por alguns objetos - dos quais uma televisão que age em cena como ícone e metáfora da incapacidade humana de ficar solitário temendo o momento de reflexão e autoconhecimento -. Conta com a Luz de Lucca Simas, que a meu ver poderia ser mais rica se procurasse dialogar com os movimentos e a trilha sonora. Essa por sua vez não tem atribuição, tendo por base uma pesquisa do próprio autor.
Entre a direção e a atuação
A direção de Giulio Lacorte nasce durante sua pesquisa acadêmica de conclusão de curso na Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Giulio Lacorte e Letícia Paranhos atuam muito bem nos dois papeis principais, mas funcionam melhor quando a coreografia exige a interação dos dançarinos. Os privilegiados que assistiram ao espetáculo perceberam a flexibilidade e o equilíbrio do corpo dos atores-dançarinos frente às peripécias e diversas interações com os objetos do cenário. Ficou claro que a exigência gestual que o espetáculo faz ao elenco o levou a uma prática exaustiva em busca da perfeição no domínio do corpo. Ficamos agradecidos pela apresentação e desejos de revê-la em outro momento no processo de amadurecimento da pesquisa de Lacorte.

Referencias
Folder de Divulgação da peça distribuída pelo Grupo Hybris.

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