segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Sobre infância


Sobre infância,
pela voz de Paulina

Percebo minha dificuldade em falar de infância apenas a partir de nossas trocas de imagens, registros, conversas na última semana....

Sensação forte de que sou  - e creio que somos – tão atravessada pelas experiências anteriores... difícil falar a partir dessa experiência apenas, como numa espécie de infância também, como se não houvesse experiências passadas ou no início delas na vida. Giorgio Agambem, J. Larosa falam sobre isso, uma espécie de infância da linguagem, o reconhecimento de que nossas experiências ocorrem, sim, em níveis nem sempre estruturados pela linguagem – no território da indigência da linguagem – e fazemos o exercício de reestruturá-las em linguagem... Entretanto, mesmo nessa indigência, estamos/estou atravessada pela minha imersão em uma cultura, em minhas leituras, etc...

Infância – um período da vida... quando somos crianças ou quando alguém disse que somos crianças e que não temos autonomia para decidir coisas importantes por nós mesmos. Quando alguém ou alguéns ou uma cultura ou uma sociedade escolhe que nós, crianças meninas, devemos vestir rosa, brincar com barbies, sentar com as pernas bem juntas – e não abertas. Quando alguém organiza nossas festinhas de aniversário com enfeites em cores berrantes, brinquedos plásticos, maquiagem e roupas de adultos em tamanho pequeno. Mas também quando ainda nos permitimos falar francamente aquilo que os “adultos” guardam para si mesmo, quando podemos andar sem roupa (às vezes), quando nossas madrinhas passam nossa mãozinha de bebê no bolo e não levamos bronca. Quando temos sensações, medos, choros, alegrias e ainda não sabemos nomeá-las exatamente, nos contentamos com um terreno mais movediço das experiências ou simplesmente não sabemos o que fazer com elas e nem precisamos saber.
Infância – capacidade de ser curioso sempre, desenhar se estruturando e reestruturando linhas, cores, formas, que ordenam e desordenam padrões, mimetizam linhas, cores e formas vistas e vividas corporalmente. (Até onde crio, desde já, sobre a experiência em sala da segunda passada? Até onde idealizo também a infância?)

Infância – abertura quase total aos estímulos do mundo, portanto, habilidade total também em simplesmente mimetizá-lo, reproduzi-lo, repeti-lo – desejar repetir o modelo adulto, em palavras, roupas, atitudes. Abertura total para o rompimento com eles, para criar linhas de fuga, contradizê-los. Por isso é tão difícil para mim não idealizar... Mesmo quando a criança repete, reproduz, algo foge ao controle, algo singular transparece pelo olho, pela fala, pelo corpo menos enrijecido pelo tempo no mundo... A criança parece nos devolver o mundo e a nós mesmos com essas linhas de fuga, nos obrigando a ver nosso patetismo, nossas contradições...

Infância – corpo no espaço, corpo com galho de árvore, corpo com corpo, corpo com giz de cera, corpo com boneca, com adulto; corpo em movimento sempre, corpo inteiro. Corpo aberto, disponível, corpo oprimido, modelado. Corpo em modelagem – pelo outro, por si mesmo, pelo mundo em suas formas.

(Primeiro exercício - rodada coletiva - de pensamentos sobre infância a partir de troca de imagens, registros e diálogos feitos no dia 

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